A construção civil brasileira está em constante mudança, impulsionada por demandas econômicas e pela pressão por maior eficiência. O setor enfrenta atrasos recorrentes, desperdícios de insumos e integração limitada entre etapas, problemas que colocam em pauta a digitalização como prioridade estratégica.
A pesquisa “Transformação Digital na Construção Civil” mostra que 46% das empresas relatam falhas no planejamento de investimentos digitais, enquanto 42% enfrentam dificuldades para escalar inovações.
Os números revelam que a adoção tecnológica já está em curso, mas a captura de valor ainda depende de planejamento estruturado e métricas consistentes.
Neste artigo, analisamos os impactos das inovações no setor, os desafios de implementação e as perspectivas para os próximos anos.
Futuro da construção civil: como estamos hoje?
A transformação digital da construção civil ganhou escala em 2024 e 2025. O setor cresceu 4,3% e movimentou R$359,5 bilhões, segundo a CBIC. O mesmo levantamento indica aumento no emprego formal e na produção de insumos, o que pressiona prazos e custos e reforça a necessidade de eficiência.
Nesse cenário, a digitalização surge como eixo estratégico para reduzir desperdícios e melhorar a previsibilidade de obras. O programa Nova Indústria Brasil prevê R$300 bilhões até 2026 para inovação e produtividade, com foco na digitalização industrial. Nas obras públicas, o avanço do BIM estabelece padrões comuns entre projeto, orçamento e suprimentos, reduzindo retrabalho e ampliando a transparência.
A adoção de sensores, visão computacional e gestão em tempo real já permite monitorar etapas produtivas e insumos. Ao mesmo tempo, cresce a demanda por infraestruturas de dados capazes de conectar construtoras, incorporadoras e fornecedores — elemento essencial para reduzir a fragmentação que ainda marca o setor.
O Ecossistema Sienge, por exemplo, atua nesse contexto como base de integração, reunindo informações setoriais e sustentando indicadores como o Índice de Demanda Imobiliária (IDI-Brasil), que analisa a atratividade de cidades do país inteiro. Em 2024, o IDI apontou a entrega de 424 empreendimentos verticais em São Paulo, mais que o dobro de 2023, evidenciando como dados e IA orientam decisões de investimento.
Principais impactos da inovação no setor da construção civil
As inovações tecnológicas vêm alterando a lógica operacional da construção civil, conectando produtividade, custo de capital e sustentabilidade. Entre os efeitos mais relevantes, destacam-se:
- Digitalização do canteiro de obras: o uso de sensores, drones e softwares de monitoramento em tempo real permitem rastrear etapas produtivas e reduzir perdas materiais. A automação de fluxos elimina retrabalhos e amplia a previsibilidade de prazos, reduzindo riscos de atrasos contratuais.
- Integração de dados na cadeia de suprimentos: a digitalização do supply chain conecta fornecedores, construtoras e incorporadoras em plataformas unificadas. Isso evita duplicidade de informações, reduz custos de estoque e melhora o planejamento de compras, como já demonstram iniciativas mapeadas pela CBIC.
- Eficiência energética e sustentabilidade: tecnologias de IA e BIM possibilitam simulações de consumo de energia e planejamento de materiais mais precisos. A otimização do uso de recursos contribui para reduzir a pegada de carbono das obras e se alinha às exigências da nova política industrial.
- Melhoria da experiência do cliente: ferramentas digitais para acompanhamento de obra, personalização de projetos e transparência em prazos já influenciam decisões de compra de imóveis. Segundo o mesmo estudo da CBIC, 73% das empresas do setor consideram a experiência digital como fator de competitividade direta.
- Modelos colaborativos e ecossistemas integrados: o fortalecimento de plataformas especializadas, como o Ecossistema Sienge, mostra como dados centralizados e interoperabilidade podem servir de apoio estratégico para construtoras, incorporadoras e fornecedores.
Tecnologia na construção civil e principais desafios
O avanço das tecnologias aplicadas à construção civil gera expectativas de maior eficiência, mas a incorporação prática ainda enfrenta barreiras importantes. Inteligência artificial, BIM e soluções digitais de gestão só alcançam impacto real quando integradas a processos já consolidados, o que exige mudanças estruturais e culturais no setor.
Resistência cultural
O receio de substituição de profissionais por sistemas automatizados ainda influencia a adoção de novas práticas. A percepção de que a tecnologia ameaça funções tradicionais dificulta a incorporação de ferramentas digitais, sobretudo em pequenas e médias empresas, que concentram grande parte do setor.
Investimento inicial
O custo de implementação continua sendo uma barreira para empresas de menor porte. Soluções robustas exigem planejamento financeiro e adaptação de processos, o que pode afastar negócios que buscam resultados imediatos.
Integração de processos
Muitos sistemas de gestão funcionam de forma isolada, sem comunicação efetiva entre diferentes áreas do negócio. A ausência de integração gera retrabalhos, reduz transparência e atrasa a captura dos benefícios esperados com a digitalização.
Supervisão e governança
Mesmo com o avanço de modelos preditivos e automação, decisões estratégicas ainda exigem supervisão humana e estruturas de governança claras. Sem parâmetros bem definidos, a dependência da tecnologia pode gerar erros de interpretação e perda de confiança em resultados automatizados.
Uma perspectiva realista para os próximos anos
A construção civil atravessa uma mudança estrutural guiada pela automação, inteligência artificial e análise de dados. A aplicação de robótica, BIM e visão computacional começa a alterar etapas de projeto e execução. A velocidade de adoção depende da capacidade das empresas de integrar inovação às práticas de gestão e medir resultados de forma contínua.
A automação e o monitoramento em tempo real reduzem desperdícios e aumentam a previsibilidade quando combinados a processos maduros de planejamento. A digitalização passa a ser parte do processo produtivo, e não um elemento acessório de modernização.
O Ecossistema Sienge demonstra como essa integração ocorre na prática. A centralização de dados de orçamento, cadeia de suprimentos e indicadores de demanda cria um ambiente interoperável entre sistemas e agentes.
A gestão passa a ser orientada por evidências, permitindo decisões rápidas e sustentadas por informação qualificada. A informação deixa de ser registrada e se torna instrumento de estratégia.
Nos próximos anos, sensores inteligentes e modelos preditivos tendem a transformar o canteiro em um espaço guiado por dados. O desafio está em romper o comportamento conservador e adotar decisões baseadas em análise e previsibilidade.
As empresas que incorporarem a IA como ferramenta de gestão terão melhores condições de ajustar custos, mitigar riscos e aumentar a competitividade.
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